Neste fim de semana fui assistir o Reboot de Star Trek. Belo filme. Vale a pena assistir, sem dúvida alguma. Como eu já andei dizendo por aí, tenho alguns probleminhas com ele, mas nada que realmente estrague (a não ser que você esteja disposto a não gostar, como parece acontecer com relação a certas franquias).
No entanto, ao ler esta matéria do Newsarama sobre o que seria legal ver nas sequências, comecei a pensar em algo: porquê deveríamos ver as mesmas coisas de novo e de novo? Eu já venho meio incomodado com essa mania de remakes que anda assolando o cinema e a TV há algum tempo, e ler a matéria trouxe isso à tona. Não vejo porque fazer um filme com um novo Khan, por exemplo. O original já é excelente, e a atuação do saudoso Ricardo Montalban é memorável. Não há porquê fazer de novo. Elementos antigos podem e devem ser revisitados, mas recontar histórias passadas pra mim é besteira. Ao meu ver, esse reboot foi interessante para poder contar novas histórias de Star Trek, e não para vermos as histórias que já foram contadas com mais humor e o estilo “descolado” de J. J. Abrams. E embora a matéria reconheça que a renovada franquia deve procurar novo material, ela propõe um caso justamente do contrário.
O senhor de novo?
Um bom exemplo do que estou dizendo até aqui é a linha Ultimate da Marvel Comics. Ela foi lançada há quase dez anos já, e é basicamente a mesmíssima coisa de Star Trek: um reboot onde é tudo igual, só que diferente. Os melhores personagens saídos desse reboot foram aqueles que mais longe foram dos originais, com a única exceção sendo o Homem-Aranha (apenas pelo fato de que ele já havia sido muito descaracterizado no universo original).
É verdade que por esse raciocínio não haveria porque fazer novos filmes do Batman, por exemplo. Afinal, antes de ver Heath Ledger como Coringa muita gente acreditava que Jack Nicholson não poderia ser superado no papel. Mas isso me leva ao meu verdadeiro ponto: eu acho que deveríamos parar de usar sempre os mesmos personagens. No caso do Coringa, como ele não tem realmente uma “identidade secreta” definida, seria interessante apresentar versões diferentes do mesmo personagem (algo que eu gostaria de ver Chris Nolan fazer caso decida usar o personagem de novo, já que será triste ver alguém tentando emular Heath Ledger). Já no caso do Batman, enquanto o conceito é muito legal, se vamos ver uma série contínua sobre ele, será que ele deveria ser sempre Bruce Wayne? Porque somos tão apegados a esses nomes? Porque as aventuras de Star Trek só são legais se forem sobre Kirk & cia (sei que isso é discutível, mas se não fosse o caso porque não usar personagens novos com essa abordagem atual?) Porque o Homem-Aranha deve ser sempre Peter Parker, o Superman Clark Kent e assim por diante?
Por mais que eu goste de todos esses personagens, acho que devemos parar de usá-los como muletas e criar coisas novas para seguí-los. A DC Comics havia feito algo legal nesse sentido com o Flash. Barry Allen havia morrido e foi substituído pelo sobrinho Wally West, que era seu sidekick. Por uns 20 anos Wally ocupou o lugar de Flash principal da casa, mantendo vivo o legado de Barry com sua própria personalidade e histórias diferentes. No entanto, recentemente o atual editor da DC (um belo de um babaca), decretou que Barry devia voltar. E assim foi.
Barry Allen entra, a vergonha na cara sai.
A principal razão de propriedades intelectuais caírem em domínio público é estimular a criatividade, fazendo com que a cultura avance mais rápido e não dependamos apenas das mesmas coisas para sempre. Os períodos enormes que estão em vigor hoje em dia para que isso aconteça (graças a Lobbies de grandes indústrias do entretenimento) alimenta essa nossa dependência dos nomes de sempre, e eu acredito que no final das contas isso gera um ciclo constante de retrocessos. Eu que não quero ver daqui a alguns anos um remake de Star Wars, com novas pessoas no papel de Luke, Leia e Han. Sai pra lá!
Mas é claro que sei que sou voto vencido, então eu gostaria de pelo menos ver um meio-termo. Apesar de preferir que as indústrias vão atrás de novos personagens e continuem construindo as histórias que contam ao invés de ficar num loop eterno, eu estou disposto a ver os mesmos personagens se pelo menos tivermos histórias diferentes. Ou seja: nada de Khan, a não ser que ele seja totalmente diferente. E de maneira alguma quero ver Chris Pine gritando “KHAAAAAAAANNNNNN”. Só o William Shatner e o George Costanza podem. Tá bom assim?
Publicado em Bullshit, Cinema, HQs